Enquanto lia este livro, os meus sentimentos eram totalmente contraditórios. Acho que como todos os leitores me "apaixonei" por Ryle nos primeiros capítulos e, talvez por isso mesmo, tenha sido tão inesperado o momento em que o protagonista-herói se transforma no vilão da história. Se havia sinais antes, não os vi e talvez a intenção de Colleen fosse mesmo essa, que nós não fossemos capazes de ver as red flags que já estavam presentes desde o início, mas que, deliberadamente, preferimos ignorar, pois a imagem do príncipe perfeito criada na nossa mente não podia desiludir. Não agora que já imaginamos todo um futuro feliz e perfeito dos nossos protagonistas! Não será assim mesmo que acontece nas relações abusivas de que esta é só um exemplo literário?
Foi só no final que percebi o que a autora tinha feito… colocou-nos no lugar da vítima! Isso mesmo! Também nós, leitores, "fomos vítimas", no seu sentido lato. Isto é, sem nos apercebermos, vamos experimentando, junto com Lily, as fases que fazem de nós vítimas, também vamos desculpando os comportamentos/ atitudes de Ryle, também as justificámos… E, no final, perguntámos porque motivo tinha de ser assim, porque é que a autora não voltou a fazer um plot twist e Ryle se tornou bom e Lily o conseguiu "curar"? Sim, era isso que esperávamos, que ele “voltasse” a ser bom e passávamos uma borracha mágica sobre os erros. Caramba! Fomos mesmo vítimas desta relação abusiva, que nem era nossa!
Durante uns momentos, não perdoamos Colleen, para perceber, depois, como conseguiu mudar a nossa forma de ver a vítima e isso é fabuloso. Senti-me "orgulhosa", por já não ser mais uma que critica aquela/e que perdoa uma e outra vez e outra…como alguém tonto que procura ver algo bom em alguém que lhe fez tão mal.
A violência doméstica (em qualquer das suas formas) é um assunto muito sério e a autora foi capaz de nos dar uma perspetiva totalmente nova sobre o mesmo, o que é muito difícil de fazer.
No entanto, devo referir que a existência de Atlas, como um novo personagem-herói, me dececionou um pouco, primeiro porque, de facto, considero que a história se trata mais do desenvolvimento do tema da violência física e psicológica do que da construção de um romance entre personagens e a presença deste herói acaba por tirar "protagonismo" à Lily, já que se apresenta como o seu salvador, o seu lugar-seguro para onde vai numa tentativa de fugir de Ryle. Assim, acaba por voltar a cair na redundância de que deve existir sempre alguém.
Apesar disso, só posso aconselhar a leitura deste livro! Sim, tem ali um ou outro momento spicy, e por isso não o recomendaria para algumas idades, mas os namoros da adolescência podem ser tricky, logo não estaria totalmente desadequado para os jovens. E ajudaria a identificar red flags, ainda que muito pálidas antes do tempo.
Boas leituras!